PASSEIO DOS TRISTES
batizou-se de "passeio dos tristes" aquele que, invariavelmente, se repete todos os fins de semanas com a família.
aqui na terra, o passeio dos tristes mais famoso é o que se faz às praias, para comer uns tremoços, beber umas imperiais....conviver e esquecer a tristeza.
se até junho do ano passado a tristeza resultava apenas da rotina da vida, daí em diante, até o mais feliz dos seres não consegue chegar ao mar sem se deixar tomar pela tristeza de ver o pinhal dizimado pelo incêndio.
sei que é um chavão, mas não há fotos que consigam demonstrar a imensidão da devastação. não há palavras que consigam descrever a falta de vida, a limpeza forçada da mata que a deixou praticamente despida, a perda do trabalho dos nossos avós que plantaram as árvores alinhadas e por talhões, o saber que tão cedo não vamos ver o pinhal frondoso que nos dava sombra e refrescava nos piqueniques de verão....e o cheiro, o cheiro do pinhal.
cresci junto ao pinhal. dali retirávamos a caruma para que os animais, para se poderem deitar na caruma fresca.
retirávamos as pinhas para acender o fogão-a-lenha e lareiras. íamos aos "cortes" trazer carradas de lenha que, com frequência, faziam atascar as carrinhas com a sobrecarga que traziam.
nos anos que correm, já não temos animais e não precisamos de caruma, já não temos fogões e lareiras e não precisamos de pinhas e lenha.
como não precisamos, muito provavelmente também não vamos cuidar.
se não temos recursos infinitos, teremos de ser pragmáticos.
uma vez que vamos remover todos aqueles pinheiros mortos, faria sentido pensar em plantar uma floresta mais diversificada, resiliente aos potenciais agressores e de menor manutenção.
vejo todas as semanas ações da comunidade para replantar o pinhal, e só ouço mesmo pinhal, pinheiros.
será que não aprendemos nada? será que o icnf e as autarquias não aprenderam nada?
felizmente, o mar e as dunas não ardem.